quarta-feira, novembro 30, 2005

Reencontro


Hoje o sol entrou-me outra vez pelo telefone adentro...
Hoje tive um reencontro feliz.
E é aqui que o partilho por ser mais discreto. Por tudo o que viveste ser tão intenso e perturbador que me parece melhor guardar num cantinho mais escondido daqueles que te acompanharam.
Todas as malformações congénitas estão finalmente a sair cá para fora. Todos os abusos e maus tratos estão a fugir de dentro de ti e a refugiar-se onde não te podem voltar a atingir.
Não me olhas nos olhos como antes, ainda. Mas já te olhas de frente.
Lembro-me de muitas coisas que vivemos, noites, dias, festas, comer israelita quando ainda ninguém gostava, carnaval na casa da ribeira comigo grávida e mascarada de anjo mau, numa confusão de xarros que evitava e tu e os outros só queriam estar comigo e eu com a birra do sono a rir que nem uma perdida e vocês a querer ficar no meu quarto e eu que não.
Que não queria o fumo perto de mim, do meu bébé, mas não valia a pena porque afinal eu era gira e vocês riam-se comigo.
E eu a pensar que gostava de ser como tu e a não ser.
Nessa noite eu estava mascarada de anjo mau e a barriga já se notava tanto! Mas conseguiste tornar-me irreconhecível com aquele cabelo preto e tu toda loira!
E ainda com a minha barriga, em tua casa com o B. e o G. noites inteiras sem dormir e dias de férias a trabalhar que não lembram ao diabo!
Deixaram-me na rua. Dormiam todos e eu, grávida de uns oito meses a saltar pela janela para poder fazer-vos o jantar. E a barriga não me deixava saltar porque a janela era lá em cima e eu com medo.
Louca!
E a querer ser como tu...
A Diva lá do sitio! Tu, que agora, finalmente me apareces numa janela telefónica a dizer que não queres ir para casa...
Posso ir para aí?
E eu o refúgio, o porto de abrigo, a calmaria.
E partilhamos vivências e existências.
E é tão bom redescobrir a idade adulta assim!
E voltar a sentir a amizade e o prazer de te ter por perto.
Agora não fujas! Fica cá. Dorme comigo.
Nem precisas de me agarrar, que passo mais tempo a fazer outras coisas que a dormir...
Menina-mulher tu também. Mais mulher agora.
Com mais inseguranças, mas mais a frio. É tudo real, agora.
E os planos que já fazemos vão dar cabo de nós, mas é assim que eu gosto.
É esta aventura este frio na barriga.
Cozinhar uma massa como antes na tua casa em Coimbra...Revividos aqui alguns momentos partilhados só por nós agora! Sem mais ninguém com quem contar. Mas as duas serenas e crescidas.
Com música e blogs á mistura!
Toda a partilha que fazemos é para ser apurada em lume brando e calmamente digerida.
Sem aditivos.

Roubei esta foto de qunado eras adolescente. Espero que não me matem!

A perda e o perdão

Fiz tudo o que quis sem que te importasses, para te amar sem o lamentar.
Amar é abrir a alma.
A perda é um dos sentimentos mais angustiantes e o perdão um dos mais nobres.
Ambos fazem parte da nossa vivência diária e com os quais lidamos sem, no entanto os revelarmos. São acontecimentos diários menos importantes que os minimizam e podem ser simultaneamente de desespero e de esperança.
A causa da perda pode aliviar de actos e atitudes irreflectidos ou circunstâncias naturais.
A diferença entre eles é que a primeira depende inteiramente de nós e a segunda não.
Vou falar então da perda, no sentido em que pensamos que pode ser resolvida através do perdão, como se fosse uma espécie de antídoto natural contra a nossa estupidez.
Achamos sempre que encontramos numa desculpa esfarrapada um antídoto perfeito para justificar aquilo que não tem justificação.
Só que o problema é quando chega o dia em que esse antídoto não funciona! É neste momento que a perda se torna um sentimento que nos consome e para o qual o perdão é a nossa única esperança.
Passamos então a fazer a nossa vida em função de uma hipotética descoberta científica, com uma esperança de encontrar esse tal antídoto que nos permita repor a perda que é única e insubstituível.
Não há antídoto melhor do que o dos actos e das atitudes.
É ele que faz com que nas nossas vidas não haja perdas para além daquelas que são absolutamente naturais.

Convençam-se de que se o fizermos, não vamos passar o resto da vida em busca de um prémio nobel, para a descoberta de algo que se chama carácter.
De qualquer maneira, gosto de ti como és.

terça-feira, novembro 29, 2005

Como é que eu deixo passar isto?

Vim aqui, onde já não passava há algum

tempo...
Animou-me a noite.
A mim e aos meu amigos também, tipo pollillon...

Cavalgando devagar


Jantamos num restaurante, perto da floresta.
Apesar da tua falta de gosto, estavas perfeito.
Andavas com passos incertos entre a folhagem, no caminho de cascalho, como se todos os passos terrestres que te conduziam aos objectos reais da vida, como por exemplo a um restaurante, fossem indignos dos teus pés.
Tal como não é apropriado arranhar canções ligeiras nas cordas de um violino stradivarius, assim guardavas tu os pés, essas obras-primas, cujo único objectivo e significado só podia ser uma dança gravitacional.
A dissolução das leis da gravidade, o rompimento das limitações deploráveis do corpo.
Jantámos, bebemos vinho tinto e rimos muito.
Essa noite foi o momento de felicidade, inconsciência e vida.
Levaste-me a casa e despedi-me com um beijo leve na face.
Sempre observei todas as mulheres que traziam para a tua vida o encanto dos primeiros amores e tudo aquilo que o amor significa: o desejo, os ciúmes, a solidão desconcertada. (Tres danzas concertadas...)
Mas atrás das mulheres, das representações e do mundo, oscilaca um sentimento que era mais forte que todos os outros. Pouca gente conhece esse sentimento.
Chama-se amizade.
Ao recordar este encontro com um amigo lembro-me de me transformar em homem. Lembro-me de quando fui verdadeiramente amiga de alguém que precisava de mim.
E vejo-a aproximar-se novamente.
A amizade pura cavalga no dorso de uma Deusa.
E aproxima-se. Materializa-se. Vai chegando, devagarinho...



Post ao som de Pink Martini - Sympathique.
Que me fez voltar atrás no tempo!

Bom! Muito bom!




'

Quem viu ou não

Quem viu, viu.
Quem não viu, visse!
Que eu não quero as fotos do meu tesouro por aí nesta rede maléfica...

sábado, novembro 26, 2005

Mas porque é que sou assim? ou, O meu menino é de ouro!


Uma pega de caras...
Não tenho amigas? Não saem comigo. Isso é diferente.
E hoje, parece que foram todas ler o que escrevi...
Fiquei sem bateria no telemóvel. Eu! Nunca fico sem bateria. Não o oiço, mas isso é se estiver a dormir, que ninguém me acorda. Mas sem bateria? Nunca! Hoje rebentaram-me com a bateria, as gajas!
E alguns gajos também, claro. Não pensem que não...Hoje ligaram todas! São umas queridas! E fizeram-me uma surpresa, algumas delas... Apareceram-me á porta da escola... Guikas!
As tuas tias tortas são umas tontas! E lá vamos nós jantar. Italiano, comme il faut! E ainda me espetam com o gin...
Vá lá mulher! Sai da toca, que ninguém te vê... Deves andar fugida com algum armeiro armado em cupido destruidor... Moi???
Lui? ? ?
Mais non, minhas queridas! E o Guikas, não é tão, tão, tão lindo????
Mary, (já me chama assim, o sacana!) ainda não me esqueci do que me prometeste!
Moi?
Só prometo o que posso cumprir... Só isso, Guikas! O que foi agora?
O violino, Mary, o violino!
Este sai á mãe! Primeiro foram os toiros. Tinha dois anos e lá ia ele para a arena e para a quinta do senhor cavaleiro toureiro com o outro que se foi para o norte viver uma história de amor que está a acabar...Depois foi o violino. No natal quero um violino para tocar as músicas que me punhas a ouvir quando era bébé... Portishead? Não, Mary! O surdo! Era o surdo que eu ouvia? " A música é capaz de reproduzir em sua forma real, a dor que dilacera a alma e o sorriso que inebria " Não Guikas. Isso foi depois. Quando já percebias melhor o que era música.

Quando me dizias que pareciam pessoas a falar. A entender-se. O que te dava para ouvir era Bach, Guikas. Bach.
E agora queres tocar outra vez? Jesus!
És mesmo sangue do meu sangue, carne....and so on and so on...
Mary?
Sim?
Vens comigo dormir com os golfinhos hoje?
Não Guikas. A Mary fica. Os adultos ficam. E as tias tortas também. Têm que me levar a casa que não posso conduzir assim...Essas bestas!
E ainda lhes chamo amigas!
Da onça! Estas gajas dão cabo de mim!
Depois o tonto... Ai, Ai...
Eram os toiros, depois o violino, que ressuscitou agora. Depois a esgrima, que aqui na provincia não dá.
O judo. A equitação.
A seguir o futebol. Desistiu depois de um treino em Inglaterra onde se fartou de correr, e o cu gordo não consegue correr assim tanto, nem sobre as ordens de ninguém....
Tem a quem sair, está-lhe no sangue não obedecer a ordens... A seguir era escalada...
Mãe do céu! Ponham juízo na cabeça do garoto, que eu não consigo! Hoje vai dormir com golfinhos... Lindo este meu filho defensor dos animais, e depois vai vê-los presos num enorme aquário... A educação que lhe dou deve ser mesmo a ideal!...
E tem a natação, a vela a dança... É vê-lo a dançar com seis miúdas todas giraças! Não faz pliet, mas tem algum jeito... Não faz pliet ainda... Mas vai fazer, ou não me chamo Mary!
Credo! Criei um monstro! Pobre criança atormentada!
Será ele a expiar os meus pecados? Assusto-me só de imaginar! E a minha imaginação cavalga desenfreada! Por campos verdes e florestas escuras onde luto contra infiéis...
Ah! A imaginação! Corre solta e volta a fugir-me e não a páro!
Volto para casa e agora sim, as amigas são amigas e a vida é vida e também tentamos perceber todas juntas porque raio não saímos juntas e percebemos que amigas, amigas...
Negócios á parte!
Pois é...
Mas tenho este tesouro escondido e por isso, as amigas podem ficar todas com os homens delas. Quero lá saber!
Guikas, hoje escrevo para ti que me iluminas as noites e me fazes lutar e continuar á procura de um mundo perfeito.
E é por ti que ainda permito que o monstro se intrometa na minha vida de vez em quando.
Mas levar-te a ver o Noddy não será certamente o melhor. Já não és um bébé. E gostas de Bach. Antes LUDOVICO EINAUDI ...
É por ti que que adormeço.
É por ti que escrevo e vivo e rio e luto!
E se eu morrer? Se tu morreres, eu continuo com a minha vida, Mary. Não fizeste o mesmo?
É isso que espero de ti, Guikas! Isso e que sejas um vencedor!
E que me guardes para sempre no sítio mais escondido do teu coração.É lá que moro. É aí que vivo, por ti. Guikas! Meu sonho doce. Meu poeta brilhante que não te queres prender a nenhuma das namoradas que te querem impingir!
Que não conhecem o Ludwig, o surdo, e nem sabem o que é uma pega de caras!

Meu menino selvagem que já não gosta de prisões. Que vê a minha mãe nas estrelas e faz reiki desde que me lembro! Os meus amigos blogueiros não sabem, mas este menino dourado cura todas as dores que possam ter!
O meu menino é de ouro!

On the road again?



Nada como seguir o velho lema que levou tanta gente tão longe: "ousar lutar, ousar vencer".

Não podemos arrancar uma única página das nossas vidas, mas podemos atirar o livro todo ao lume.
E isso pode ser o que vou fazer. E disse-te mãe, que ainda não tinhas descoberto o caminho para a minha casa nova e não estou aqui nem há seis meses e já penso em ir embora.


Descobres-me lá? No sítio que ainda não sei onde fica, mas que pode ser novamente um recomeço?
Mais perto do Tejo, mais perto de ti. Outra vez.
Anda! Tenta lá encontar-me que não posso passar assim tão despercebida, Mãe, que me faz mal ao ego!

sexta-feira, novembro 25, 2005

Veia de poeta?

Regresso à minha cama larga e solta
às cinco da manhã
e ainda venho cedo

P'ra trás ficou a noite
toda lua
que vagueou comigo
acompanhou meu passo solitário
sem angústia
mas com uma pena branda e morna de mim

Acredita lua
se eu fosse uma mulher com companhia
não seria tão tua


Será que me deu para isto agora? Eu... Que sou uma gaja de escrever tudo a cru. Sem poesia e sem esconderijos mais que previsíveis?
Não me posso deixar tentar por coisas tão ridículas nas minhas palavras!
Anda lá lua, que hoje nem és cheia, nem me podes encher nem esvaziar como eu preciso de ser.
Foda-se para o que havia de me dar!
É desta que me internam!
Já está previsto para o ano da graça de deus de 2015,
quando estiver tão gasta e tão impura que não aguente o verde pus a correr-me nas veias.
Não devia ser verde, o meu sangue. Antes azul da cor do mar!
O mar que me leva e me trás e me empurra e me deixa a sonhar!
Tu também, mar? Acompanhas-me nestes devaneios e não me paras?
Mas serei sempre tua. Tua e da lua, se me quiseres assim dividida...
E espero. Espero que me arranques e me enchas os pulmões e me deixes ouvir os sons que me fazem sonhar e esquecer!
Andavas tão sossegado, tu!
Porque me acordas a esta hora?
Deixas-me a arder. A cara a arder, a casa a arder!
E se vacilo?
Não sabes que os pássaros se despenham por minha causa?
Caem sem saber porquê. Mas eu sei.
Tu é que não. Por isso não me tentes.
Não me faças recordar o que tivemos. Não me lembres das tuas mãos. Não me lembres.
Já me tinha esquecido...Viajei pelo limbo da esperança e da desilusão e agora que sei que não conto com nada... Voltas para me assombrar?
É tarde. E não sou nenhuma princesa, apesar do meu sangue dever ser azul.
Azul da cor do mar!
E se tinha perdido a esperança de ter uma pessoa que se te pudesse sobrepor, aprendi que não existem pessoas que possam.
E não quero o sabor a sal de novo na boca. Descobri sabores diferentes. E nem os teus pulsos me levam novamente á raia da loucura!
Há pulsos mais fortes e que me arremessam contra as paredes do meu quarto. E nesse nunca entraste. Essas paredes não te esperam!
Essas paredes não são tuas. Já não podem ser.
O teu santuário já foi profanado.
Se sou dominadora, é em autodefesa. Contra a dor, contra o medo do fracasso, do abandono. Contra mim!

Rompi com a minha vida toda e voltei a ser criança. Não foi fácil. Mas o que quer que se tenha expandido para fora de mim há-de continuar.
Ás vezes tenho a sensação de ser aprisionada, de cair dentro de mim mesma.
Sinto que não mereço nada.
Sinto mesmo que não mereço nada.

quinta-feira, novembro 24, 2005

Portugal


Um golpe de sorte...

sábado, novembro 19, 2005

Covil



Metia-me na banheira, nesse verão. Era tão pequena que tinha de curvar as costas e dobrar os joelhos.
Como um feto.
No meu covil liquído, escondia-me.
sentia-me bem, lá. De certa forma abrigada. No seu cheiro. Habitei essa banheira muitas noites, esses meus fragmentos de noite, quando o pessoal do hospital descansava gentilmente do serviço pelas três da manhã. Quando já conseguia mexer-me, andar sem tropeçar e sem rebentar os catéteres que tinha espetados no braço, como aconteceu no primeiro dia em que voltei a sentir o corpo. Nesse dia de milagres em que me fechei na casa de banho e quase me esvaía em sangue sem me poder mexer como antes.
Escondia-me do que me fizeram. Afogava a vergonha e depositava as lágrimas naquela água que me ajudava a libertar.
Temos sempre esperança. Mas esse estado de certeza não é confiante nem calmo. Depressa caía num universo de crença, de magia, até de bruxaria. O que acontece faz parte do impensável a tal ponto que, no universo simbólico, o excepcional passa a ser a regra.
Só queria sair dali. Sair para a rua e andar outra vez.
Quando se desce tanto nas entranhas da terra, a obscuridade não é uniforme. Ganha-se o hábito do escuro. Ouve-se novamente a risota que assombrava os pesadelos de infância.

Sonhamos de olhos abertos. Vemos diabos vermelhos que não param de dançar, macacos com grandes pénis que se masturbam nos troncos das árvores.
Deixei de dormir, mas não estava cansada. Só queria andar outra vez. Deixar a morgue para onde me empurraram tão selváticamente...

Medo





Nem sequer sei se tenho medo. Digo para comigo que vai conseguir o que pretende, que vai massacrar-me como promete. Tenho a impressão de que o sangue já não circula no meu corpo.
Depois ele ajoelha-se à minha frente e grita várias vezes "Íamos morrendo..."

sexta-feira, novembro 18, 2005

Na minha cadeira


Aos poucos vou banindo a solidão. Que não me assusta.
Hoje sou quem eu quiser. Hoje vou-me inventar e ser quem sempre desejei.
A vida é uma grande sedução, onde tudo o que se escreve seduz. Tudo o que existe seduz...E hoje posso ser seduzida ou seduzir.
Se me deixar ficar presa ao que não quero fico sem mãos para contar a aventura que é imaginar a vida que vivi. E festejar o que construí.
Hoje quero ser mar. Azul cobalto, para condizer com o teu sangue real.
Quero ser sol, para aquecer todas as noites frias de outono a cair em nós.
Quero ser céu para cobrir todos os sonhos de todos os mundos de todos os tempos.
Quero pedir desculpa por não ser disponível. Por não dar atenção ao que merece ser ouvido.Mas A Catadupa de acontecimentos não me deixa espaço para tudo o que também merece...E sinto-me louca a beber tudo ao mesmo tempo, com medo de não poder ter tudo. De não saber ver tudo.
Corro sem saber para onde e sem me importar por não saber.
É assim. Temos que sofrer não só pelos nossos próprios pecados e omissões, como também pelos pecados dos outros, pelos pecados do passado.
Ouvi de novo a música, vivi de novo aquelas horas de espera. E senti que a música faz esquecer. A música faz esquecer completamente a literatura. E até a vida. A música é um sedativo. Torna-nos contemplativos. Faz-nos sonhar. É bonita, a tua música. É como se me tivesse drogado. Puxa ao sentimento. Não a letra, quase imperceptível, mas a melodia, a batida suave, a mistura de fado com Rui Veloso. Mais fado. A sedução, o feitiço!
Posso quase espremer dela um pouco do teu ar envergonhado...
Faço viagens aqui sentada! A cadeira devia ser mudada. Devia ser mais confortável, mas não mudo para me auto flagelar e manter-me acordada enquanto percorro as ruas mais íntimas em mim.. As minhas ruas batidas pelos meus saltos de sete centímetros.
Nessas ruas mora gente. Gente que procuro descobrir e sentir. Gente que faz os meus dias e noites. Gente que vai e vem. E enquanto lá morar alguém, vou continuar a percorrê-las. Vou andar á descoberta de tudo o que vivem e como vivem. Á procura de mim. De alguma maneira espelho-me nessas vidas, e descubro tudo o que quero saber a meu repeito. Pessoas diferentes que me fazem diferente. Inteligentes, ou não. Ruidosas, ou não. Sonhadoras, todas. Sempre á espera. Olho-as e ouço-as. Falo e falo e falo, mas gosto tanto de ouvir! E sobretudo perceber. Olhar lá bem para dentro. Para dentro de cada uma das casas por onde passo e deixo uma marca mais ou menos legível, mais ou menos discreta. A minha marca mais ou menos marcante. As janelas vão-se abrindo e fechando e por vezes voltando a abrir. Outra vezes ficam fechadas para não lhes descobrir os segredos. O medo assalta-nos a todos. Por vezes sou o lobo mau que se entranha nas cozinhas e prepara a mais suculenta das refeições. Muitas vezes fica tudo no prato. Outras vezes fica por servir, até. Mas preparo tudo com esmero e alegria e tento alimentar as almas famintas.


Ás vezes sou comida e gosto. Outras vezes não. Também me instalo nessas casas, sem vontade de sair. Mas saio, porque a solidão não me assusta. E tudo cicatriza. E posso sempre voltar para ver a vida dessas casas através de uma janela meio aberta.
As minhas viagens e aventuras sentada nesta cadeira!

Conversas, sentimentos nunca explorados até ao limite. Para ficar alguma coisa para a próxima viagem...
Para não matar o mistério com uma única machadada.
Viajo á toa, conforme o vento...


E vou andando pelas ruas, destruindo o lixo depositado. A reciclar os restos. Nem sempre uso o machado. Reciclar é uma boa escolha. Porque o passado não se apaga. Cola-se e não desiste, até essa limpeza estar concluída. Limpo as mágoas, os mal entendidos, as feridas. E saio para outra rua mais leve, e do cimo dos sete centímetros vejo tudo menos sombrio.
Vejo a luz. Um ponto que me vai indicando o caminho. A estrela do norte que tenho a guiar-me sempre presente. Uma estrela que brilha mais que as outras... Mãe! Da minha cadeira também te vejo!
Viajo por dentro de mim e vejo-te a ti! Vivo por ti, também.

quinta-feira, novembro 17, 2005

Tentativa de homicídio



A noite em que não vieres será triste.
Não te pedirei contas, nem num momento de delírio.
O momento da madrugada, quando as forças do mundo inferior ainda forem poderosas na terra e nos corações humanos, quando a noite solta o seu último suspiro maléfico. É um momento perigoso - conheço-o bem. Tudo isso será matéria policial...Que queres que faça com essa verdade judicial, se se revelar um facto, de facto, o que já sei com o meu coração e com a minha mente? Tentaste matar-me. Mas que posso fazer com os segredos abafados de uma casa de paredes novas e recordações mais novas ainda?
Seria talvez um alívio para ti. Contar-me tudo, talvez no fim da vida, num processo absurdo e vergonhoso. Se arrancasse de ti uma confissão dessa tentativa de homicidio da alma perdida que eu era e que trouxeste de volta. Mas não quero que sintas alívio.
Quero a verdade, e a verdade para mim, não serão esses factos policiais poeirentos e decrépitos, os segredos de paixões e equívocos antigos do meu corpo, da minha alma morta e reduzida a pó... Que importância terá isso para nós, agora que nada mais existe? Tentamos saber a verdade e depois caminhamos para a morte, eu, aqui, misturando os meus ossos com os dos meus antepassados, e tu, algures noutro mundo, perto de outras pessoas que nem sabem que existo?
Que importa, no fim de tudo, a verdade, e a mentira, o engano e uma tentativa de homicidio, ou mesmo o homicídio, que importa, onde, quando e quantas vezes me enganaste e fizeste acreditar num amor que não existe?
Contarás tu essa verdade triste e miserável, confessarás exactamente como começou, que ciúmes e saudades, quando me abraçavas (quanto me abraçaste!) que medo nos empurrou para os braços um do outro... Que sentias quando me abraçavas, que sentimentos de vingança e de culpa atormentada o teu corpo nessas noites.... Que importa isso? Confessarás?

Afinal, tudo é tão simples. Tudo o que foi e poderia ter sido. Aquilo que qeimou os nossos corações de tal maneira que pensávamos que não poderíamos suportá-lo, que morríamos ou matávamos alguém..
Tudo isso se torna em pó, menos consistente que o pó que o vento levanta e arrasta sobre os cemitérios. Seria uma vergonha e absurdo falar disso.
Porque sei tudo..
E que posso fazer com essa verdade trivial, com os segredos de um corpo que pode nem existir, já?
Que significa fidelidade? Que é que podemos esperar da pessoa que amamos?
Reflecti muito sobre isso.
A fidelidade não será um egoísmo terrível, egoismo e vaidade, como a maior parte das coisas e pretensões humanas na vida?
Quando exigimos fidelidade, queremos que a outra pessoa seja feliz? E se a outra pessoa não é feliz na prisão subtil da fidelidade, amamos essa pessoa de quem exigimos fidelidade? E se não amamos o outro de modo a fazê-lo feliz, temos o direito de exigir algo, fidelidade ou sacrifício?


Agora, não me atrevo a responder a essas pergunta com tanta firmeza, se alguém as formulasse, como teria feito há alguns anos atrás.
Quando me deixaste a morrer á tua espera e tinha acumulado tudo para te receber...
E parece tudo tão terrivelmente insignificante, se olharmos para trás.
Sim. No príncipio sente-se que tudo se desmorona á nossa volta. Porque os ciúmes, a decepção, a vaidade podem causar uma dor tremenda.
Mas isso passa... Passa de uma maneira incompreensível, não de um dia para o outro, não. Essa ira nem com os anos se apazigua - mas finalmente passa. Da mesma forma que a vida.
Tentaste matar-me ao não me dizer nada.
Sempre que engolias em seco e não me dizias que me amavas. Ou que não me amavas.
Há algo que pode doer, ferir e queimar de tal maneira que talvez nem a morte seja capaz de dissolver: se uma pesoa fere aquele amor-próprio, sem o qual não podemos viver em dignidade.
Vaidade? Talvez.... Porém, essa dignidade é o conteúdo mais profundo da alma humana.
Por isso temo o segredo.
O que não me contas. O que não confessas...
Diz-me a verdade...
Só.

quarta-feira, novembro 16, 2005

Tralha!


Quero! Muito! Muita tralha!
Onde andas minha musa?
Não me abandones! Não me deixes a sofrer com o teu silêncio!
Podia ter mil homens depois de ti e eles nunca poderiam apagar-te.
Tu nunca perceberás o que me deste. Tu és uma coisa á parte.

Frida... ferida de morte?....



Frida Kahlo nasceu no mês de Julho e morreu em Julho.
Uma mulher de luta, desejos, solidão, a sua fome de viver sua vida, intensamente cada segundos e minutos.

” Quem precisa de pés, se tem asas para voar?” pensava Frida. Revejam o Filme de Frida Kahlo. É uma história de amor heróica. Salma Hayek interpreta esta personagem: um ícone de sobrevivência, independência, coragem e inconformismo feminino. A fotografia é inegavelmente encantadora.

Em busca de imagens vívidas, a diretora Julie Taymor encontra inspiração em diversas fontes, incluindo jardins flutuantes, ruínas aztecas, máscaras mortuárias mexicanas e cartões postais de época. È um acto de coragem que nos tira de qualquer estado depressivo. Imperdível!

Magdalena Carmem Frieda Kahlo Calderón , nasceu em Coyacán, México em 06 de julho de 1907. Sua vida foi sempre marcada por grandes tragédias; aos seis anos contraiu poliomielite, o que a deixou coxa. Já tinha ultrapassado essa deficiência quando o autocarro em que passeava teve um grave acidente. Ela sofreu múltiplas fraturas e uma barra de ferro atravessou-a entrando pela bacia e saindo pela vagina. Por causa deste último fez várias cirurgias e ficou muito tempo presa a uma cama. Começou a pintar durante a convalescença, quando a mãe pendurou um espelho em cima da sua cama Frida sempre se pintou a si mesma:
"Eu pinto-me porque estou muitas vezes sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor".


As suas angustias, as suas vivências,os seus medos e principalmente o seu amor pelo marido Diego Rivera. A sua vida com o marido sempre foi muito tumultuada. Diego tinha muitas amantes e Frida não ficava atrás, compensava as traições do marido com amantes de ambos os sexos.


A maior dor de Frida foi a impossibilidade de ter filhos (embora tenha engravidado mais de uma vez, as sequelas do acidente impossibilitaram-na de levar uma gravidez até o fim), o que ficou claro em muitos dos seus quadros. Os seus quadros reflectiam o momento pelo qual passava e, embora fossem bastante "fortes", não eram surrealistas:

"Pensaram que eu era surrealista, mas nunca fui. Nunca pintei sonhos, só pintei a minha própria realidade".

Numa declaração de Diego Rivera, nos anos 50, podem-se explicar as suas referências ao considerar Frida Kahlo como “a primeira mulher na história da arte a tratar, com absoluta e descomprometida honestidade, podíamos até dizer com uma crueldade indiferente, aqueles temas gerais e específicos que apenas dizem respeito às mulheres”, ou seja, para ele, haviam temas que só as mulheres poderiam ou saberiam representar com mais fidelidade.
Frida, mais mexicana do que nunca, chocava a todos com suas roupas, risos e gestos. Descobria-se uma forte e desejada mulher.
Kahlo viveu como Diego Rivera lhe recomendou, um dia:
'Aproveita da vida tudo o que ela te der, seja o que for, sempre que te interesse e possa ser certo e funcionar.'

Ela costumava dizer que
'a tragédia é o mais ridículo que há' e 'nada vale mais do que a risada'.


E na madrugada de 13 de julho de 1954, Frida, com 47 anos, foi encontrada morta na sua cama, mas no seu diário a última frase causa dúvidas:
"Espero alegremente a saída - e espero nunca mais voltar- Frida”

terça-feira, novembro 15, 2005

Linha...



Preciso de uma linha destas, mas com apoio domiciliário...
Obrigada.


.

The Devil is a DJ...



Tonight...
All the nights in Goa Gil...

And the night that I went down and up...And....later...







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Abismo


Quando a vida nos atropela,
O que fazemos?
O que se faz?

Engole-se em seco.
E Splash!

Mergulha-se no abismo...

domingo, novembro 13, 2005

A música que sinto


Se todos os dias alguma coisa boa acontece... Porquê lembrar-nos só das que nos deixam mágoa?
Temo a música, com a qual tenho uma relação secreta que envolve não só a minha consciência, mas também o meu corpo: como se o sentido mais profundo da música fosse uma espécie de ordem fatal que me desvia da minha trajectória e quebra algo dentro de mim.
Quando saio para o mundo, onde tocam música suave, nos restaurantes, nos bares...Essa música faz-me voar. Liberta-me e obriga-me a entender e aceitar a verdade da existência.
Mas essa música é diferente daquela que gosto...Porque o som de música para tornar a vida mais agradável, mais solene, para fazer vibrar os olhos das mulheres e faiscar a vaidade dos homens não tem o verdadeiro sentido da música.
A música de que gosto não é para me divertir, mas para tocar nas pessoas as suas paixões, o seu sentimento de culpa. Quero que a vida seja mais real nos corações e nas consciências humanas.
Esse género de música é assustador.
Todos dormem já a esta hora, há muitas horas, mergulhados profundamente no sono e eu sinto, que, de certo modo, participo deste silêncio, e guardo também a segurança de algum reino á procura de realização e entendimento.
E algo vibra em alguns corpos. Uma espécie de elegância e nobreza, graciosidade e harmonia quase culposa, que existe na consciência de almas antigas e nobres.
A música transmite-me que as minhas amizades e alianças, que são complexas e frágeis como todas as relações humanas fatais, devem ser preservadas do dinheiro e dos interesses e libertadas mesmo da sombra da inveja ou da indiscrição.
Não é nada fácil.
E além do dinheiro, a música, como a amizade, devem ser salvaguardadas para a vida.
Qual é o significado do poder da música? Em todos os poderes humanos existe um ligeiro, delicado e quase imperceptível desprezo por aqueles que dominamos. Só podemos dominar inteiramente almas humanas se conhecemos, compreendemos e desprezamos muito discretamente aqueles que são forçados a render-se, por não entenderem. Por não assumir a grandiosa arte que nos faz transparecer a nostalgia.
E a coragem de vislumbrar em cada momento dificil a certeza de uma pauta escrita por nós e para nós.
Mesmo que essa pauta não resista a mais que dois anos, uma semana, um dia de violenta vontade de acreditar no poder da música sobre a mudança...
A música oscila sobre a amizade como um sentimento mais forte que todos os outros.

sexta-feira, novembro 11, 2005

Quase louca...


Já é de manhã...
não vi as horas passarem
nem a lua ir embora.
Embora fosse o começo de um novo dia,
era o fim do calor dos teus abraços...
Aquela tua roupa já veste o teu corpo
e eu quase louca,
remoo as lembranças de ontem
na procura da última taça de vinho que nos levou para a cama.
Tu trancas a porta e vais,
a saudade vem...
e eu quero estar aqui quando voltares,
quero estar aqui quando o telefone tocar,
mas não há lugar melhor que eu queira estar se não no teu pensamento.
E eu penso em cada momento,
em cada sussurro,
em cada delírio;
penso intensamente

terça-feira, novembro 08, 2005

Brisa na Nuca!!!


Amanhã...
Será uma grande noite!!!
Um grande dia.
E a partir daqui, é sempre a subir!!!
Porque se acabam as interpretações.
Porque não há mais nada para viver sem ser a vida!
Mind Breath,
gosto de ti!
Não te quero desenterrado.
Quero-te em ossos, cinzas...
Não deixes de existir. Lutar.
Os mal entendidos podem ser trágicos, e conduzir-nos
á apatia!
Hoje vou-me dedicvar só a mim.
Vou ler-te com atenção, e depois...
O veredicto final.
Isso é suposto ser o outro gajo a fazer,
não é?
Uma brisa sopra até á minha nuca.
Sopra palavras que a natureza me deixa beber.
E tão longe que estão as borboletas. Tão longe e amanhã...
Tão perto. Aqui ao lado. Aqui a respirar na minha nuca.
Sem sexo. Sem deitar tudo a perder.
Desta vez... Vai ser uma daquelas
tentativas de conhecimento interior.
Não percebeis nada. Mas é assim.
Deixai-vos estar em vosso lugar.
Os relatos virão quando
me
recompuser.
Se...
Se me recompuser.
Aguardai!!!

quarta-feira, novembro 02, 2005

E se eu fosse assim...


Se eu fosse isto, o que serias tu?