quarta-feira, julho 26, 2006

Condenada


Transportamos memórias e hábitos adquiridos. Não é fácil esquecê-los em cada novo contexto.
Fazem parte de nós.
Restam-nos as palavras. A subtileza das palavras. É com elas que construímos os nossos mundos. é com elas que esgrimimos, que nos defendemos e atacamos.
É com elas que somos atacados.
As palavras pertencem-nos. É com elas que nos construímos.

Sinto-me condenada á lucidez.
Condenada, sim. porque se a lucidez é uma grande conquista, ela também é uma grande tragédia.
A lucidez mostra-me o que não quero ver.
Obriga-me a mudar de direcção. Por vezes a deixar de lutar.
Estou definitivamente condenada.

Sonho




sentei-me na cama, fitei as luzes e os livros até as imagens se tornarem turvas, o meu quarto se transformar num mar imenso e o meu corpo se encolher como se estivesse à procura de um abrigo num canto de rocha, tentando proteger-me daquela àgua montada em rolos de escamas grossas que se abatiam pouco a pouco sobre mim, enquanto ao longe uma luz estranha explodia em linguas de fogo que se apagavam nas ondas lentas e poderosas, semelhantes a cobras imensas que resvalavam para dentro de um céu molhado e sem peso onde mergulho impelida por uma força singular. E no meio dos destroços de barcos naufragados, de âncoras enferrujadas, de corpos regelados cobertos pelo manto fúnebre de algas e dos objectos que flutuavam no meio dos peixes à laia de restos inúteis e incongruentes, nadava, abraçando a àgua com gestos leves, tocando a areia que remexia, retirando estrelas sem brilho que repousavam como astros caídos dos abismos celestiais.

My own private Corto



Almost perfect...

segunda-feira, julho 24, 2006

Sonho

Queria escrever alguma coisa bonita.
Que me fizesse flutuar, mas é sempre dificil, neste estado de intimidade interior
conseguir exprimir-me.
Deixo isso para os meus sonhos.
Outros dias de inspiração mais concisa virão...

sexta-feira, julho 14, 2006

E tu?


Estás vivo?
Ainda?
Mesmo depois da despedida do aeroporto?
Assim é que é!

O meu Ego

Obrigada


Ensinaste-me a ver o brilho nos olhos dos outros.
Estou a aprender.

quarta-feira, julho 12, 2006

Uma nova religião


Ó minha concubina
Ó minha concubina Na noite escura
Entregaste tua excelsa carnação Para lenta e desejada degustação Para minha caprichosa loucura
Como era doce teu seio seguro Tuas unhas de cereja cristalizada Teus lábios devorei na tarde Com o seu tom rouge de fruto maduro
Consumido teu glorioso ventre altar Semeei em teu quente sexo debruado
A altiva horda do prazer imaculado Que meu corpo reservou
para te amar
Místico era o suor que se libertava

De teu lascivo corpo nacarado que como um vinho consagrado

Minha ávida boca o libava
Como estavas deliciosa naquela tarde
Em cada suave movimento fremente
De nossos corpos virados a Oriente
Como dispostos por
sacra
ordenação
Ó minha concubina
Naquela tarde


Iniciámos uma religião

...

Tesão


"Que tesão é essa?"
Perguntei-me naquela manhã Que coisa é essa
Que me estranha que me toma
E sobe à cabeça? Que bate no coração
Acelera o sangue? Este baque que nos leva e arrasa
Que Me faz um bicho Um lobo no uivo
Uma fêmea no inverso de um parto?
Delírio, riso, força, prazer... Esse toma e dá
Essa sexo, essa trama, essa troca
Tesão.
Que bicho é este? Que acende o fogo Eleva o ego
Esta química dos corpos. Este atrito bom.
Esta luta sã? Só sei que isso é louco e não é pouco
Que é muito... muito que é mil... E melhor que sabê-lo, é tê-lo É ter-te entre os braços
O Teu riso aberto, o teu suor, este cheiro,o teu gozo
E todo o conteúdo que minhas mãos agarram
Todo o belo do teu corpo
Dos teus poros vulcânicos
A Tua seiva que bebo
Todo o quente que me dás
Todo este embate
Esse abateu que por fim nos tomou e nos tombou

Mas que nos deixou leves felizes saudáveis... Tesão é gozo, gosto, prazer, satisfação. Posse ou uso de alguma coisa que dê satisfação, vantagens, interesse Hilaridade, deleite, orgasmo e mais:

EU!

...

Dois


Eu ouvindo teus gemidos E tu sentindo o mais forte orgasmo... Para depois relaxarmos e adormecermos Juntos no mesmo leito...

Não é amor

Ainda furiosa
Magoada pela tua ausência
Não te amo, sei que não
Se amar, não quero saber…Tenho paixão…
Sede de ti Tua vozTeu olhar Tuas mãos…Demoras a chegar a mim
Mas o meu corpo grava-te na minha pele E alimenta-se quando não estás Ainda furiosa Não é amor É paixão…Não te quero amar, e não te amo Mas deixei-me apaixonar por ti Maldito sejas… O gelo que prometeste no meu corpo Os beijos suspensos durante dias O meu corpo violentamente contra o teu Vem saciar o meu desejo Vem possuir-me Vem dilacerar a dor da espera
Traz-me a dor do prazer

Levemente Erótico



Foi assim... Levemente é muito leve...
Well....

terça-feira, julho 11, 2006

Quem diria?

"em espiral cias rumo ao remoínho que te há-de salvar.contérmino, uma etúngula laudativa avista-te.os teus lábios nacarados soltam um grito mutista e maledicente,como uma qualquer morganática.não te percebo.ocaso não vês que ficas melhor morta ?"

Fui buscar isto aqui...

domingo, julho 09, 2006

Apetece-me mudar, ok?

Apetece-me mudar muita coisa.
Ando assim, libidinosa, por isso... A foto, o nome...
Fica mais giro, hã?
Para os mais susceptíveis... Temos pena.


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terça-feira, julho 04, 2006

Sinto-te


A minha mãe chorava. Tentava disfarçar, mas eu percebia, apesar dos cinco anos só de mimos e brincadeiras.
Segurava a minha mão fria e quase inerte na sua, tão quente e viva e morta ao mesmo tempo.
O meu pai permanecia impassível, de pé, em frente à cama dela. Os seus olhos estavam vermelhos. Tinha um ar exausto e as feições profundamente marcadas por olheiras sinuosas.
As minhas irmãs olhavam.
Já só faltava uma. A fila estava a terminar.
Depois da despedida nunca mais a vi.
Só a sinto.

sábado, julho 01, 2006

Distraí-me

Digo que não sou o que sou.
Sou tímida e covarde.
E detesto aqueles homens fortes e fecundos sempre dispostos a afirmar-se acima de tudo.
Benze-se o ar e não faz sentido contrariar-me.
Há uma estranha solidariedade entre nós.
O medo une-nos, mas o caminho da memória também nos separa.
Um louco e um bruto ameaçam a minha liberdade.
E nós... Cada abraço é (era) (foi) um prémio que entregamos um ao outro.
Agarravas-me como se quisesses salvar-me de um suicídio.
Toma a minha vida nas tuas mãos.
Só não a coloques ao lado de nada a preto e branco.
Aqui está a acontecer qualquer coisa.









Já aconteceu e eu distraí-me...

nada para te dar

Aproximo-me da minha mesa.
Comtemplo fixamente os teus olhos cheios de história.
O que pensei foi demasiado solene: a minha vida começa contigo cada dia e não tenho nada para te dar.
(tenho, mas é só desgraça e loucura e perturbações mentais, mas disso estás tu farto)
Não te alarmes, pensas. Não prometemos nada um ao outro.
Eu e as minhas perguntas impossíveis, assobio de alegria ao descobrir que também sei inventar palavras.
Os espíritos do diabo vêm para se vingar de quando foram vencidos e ficaram despidos de alma, sem corpo que vestir, nem roupa com que se tapar e desde então vivem flutuando no mundo em busca de oportunidades para se poderem introduzir nas pessoas.
Assim, quando vêem alguém debilitado, avançam sobre ele.
Quem é fraco fica possuído. E não quer saber.
Eu sou uma mulher forte.