sexta-feira, abril 27, 2007

A imolação

O grande hábito que tinham um do outro, as variadas circunstâncias que juntos haviam percorrido ligavam a cada palavra, quase a cada gesto, recordações que os projectavam de repente no passado e os enchiam duma involuntária ternura, como clarões que atravessam a noite sem a dissipar.
Viviam, por assim dizer, numa espécie de memória do coração, suficientemente poderosa para que a ideia da separação fosse dolorosa, mas não tão forte, porém, que descobrissem a felicidade na sua união.
Ela entregava-se a essas emoções para se poupar à habitual crispação. Gostaria de lhe poder dar testemunhos de ternura que o contentassem; reatava algumas vezes com ele, a linguagem do amor. Essas folhas pálidas e descoloridas que, como um resto de vegetação fúnebre, crescem lentamente nos ramos de uma árvore desenraizada.
> Blogger absorbent said...

assim parece-me deprimente. a sério :|

sexta-feira, abril 27, 2007 3:56:00 da tarde  
> Blogger Lcego said...

O meu bonsai, o meu pequeno grande amor, também dá folha assim, ando à procura de terra fértil para ver se ele pega de estaca outra vez, vezes sem conta e depois de mil substratos tentados. É deprimente, mas as maçãs, também aparecem depois da floração, e esta depois do Outono.

sexta-feira, abril 27, 2007 5:15:00 da tarde  
> Blogger Joana D' Arco said...

É como o último destino?

sábado, abril 28, 2007 2:44:00 da manhã  
> Blogger AC said...

A balança da Memória do coração, a clarividência com que preenches cada prato, a capacidade de ter anotado o conceito... é um paragrafo genial.
Parabéns.

O resto... força, muita força miuda.

domingo, abril 29, 2007 4:35:00 da tarde  

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