Danças?
A insónia dissolveu-se por fim em longos corredores que vou palmilhando a medo e em cujo solo escorregadio rastejam palavras secretas. Há um esqueleto ornamental carregado de ofensas, de peixes com sangue, monstruosidade da qual me afasto e desvio e que à minha passagem se sacode. E as paredes de granito segregam vagos sons, que logo se estilhaçam. Agarram-me no ponto em que o corredor acaba e, sob uma luz intensa, pedras e água entram em conflito por todo o lado.. Já não há chão nem paredes, mas há nascentes ocultas e estátuas cegas que apontam para mim.
Ao longe ondula o rumor do mar, já é um indício, mas, na verdade, os ruídos, os reflexos na água, espelhos que se fracturam, tudo vai à deriva na luta opaca dos elementos. Lá fora, e no sangue que sinto pulsar-me nas artérias.
Fico paralisada. Vamos sair. Lá para fora.
Fazer o dia de alguém.
Fazer o meu dia. Não se pode evitar. Damos voltas no carrossel da cidade envolta em segredos e desvios tortuosos e paramos no mesmo sítio. Não se pode escapar.
Acordo exausta, na dor e no prazer, no sentido que me causou aquele orgasmo vicioso.
Desenhaste-me na pele incendiada tatuagens lascivas e soltou-se todo o veneno erótico.
Upa.
(Era o Bernardo Sassetti ao piano, acho)
Que escrita tão estranha...tanta magoa...