sábado, novembro 04, 2006

A casa

O céu está tão baixo. Os pássaros voam tão alto. E eu na casa que já foi um sonho e agora é um pesadelo que me entrou na pele poro a poro e, quando falo, é ela que fala, quando grito, é ela que grita, e, quando choro, é ela que chora: A Casa.
As labaredas subindo pelas paredes, pelos móveis, pelas portas de madeira. Uma casa a arder dentro de mim e eu a olhar as chamas a devorar as madeiras, os móveis, os livros, as roupas. A casa.
A àgua a entrar pela porta, pelas janelas, em golfadas.
A àgua a subir lentamente pelas paredes e as coisas a ficarem submersas, afogadas.
Uma goteira a pingar, a pingar até enlouquecer. A casa.
As paredes a tremerem, os tabiques a desmoronarem-se, o telhado a desfazer-se numa nuvem de poeira e pedaços de telhas. A casa.
Fechada e silenciada depois da morte. Os sons, os cheiros, as imagens que a habitam. A casa.
Uma porta fechada que é uma tentação, como o são todas as portas fechadas.
Todas as pessoas fechadas.
Pessoas sem chave.
Pessoas que nunca ninguém abriu e vivem fechadas até morrer.
> Blogger A. Pinto Correia said...

A metáfora estaria excelente não fora o desencanto que adivinho pessoalizado. O que me preocupa deveras.
De resto está um texto excelente, o que me leva a perguntar-me se só somos capazes de criar em condições ideais quando estamos a sofrer..
Beijos

domingo, novembro 05, 2006 5:43:00 da tarde  
> Blogger Abssinto said...

Txii essa casa. Precisas de um homem da obras.

domingo, novembro 05, 2006 9:16:00 da tarde  

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