O esquecimento
Há um extremo do desejo que se confunde com o ódio.
Estava ali sentada com as suas novas amigas e distraiu-se. Ou teria observado e acompanhado estupefacta, a transformação dele, que observava as três mulheres com uma expressão de menino
abandonado. Só, perigosamente só.
Viu-as a darem comida na boca umas às outras, meter o dedo no leite-creme e oferecerem-no à recém chegada, que o saboreava lentamente, abrindo e fechando a boca com um ruído de beijos. O creme espesso fundia-se nas comissuras dos lábios até não ser mais do que saliva.
E ele?
Quem era ele, então; isolado na sua dureza, prisioneiro da sua máscara azul? Ninguém?
A resposta saltava á vista: FOI ESQUECIDO.
Onde é que já vi isto?
Por isso é que as coisas têm vida própria?
Ai, loiraça... Partes-me o coração!
Coitado... Que coma tudo com os olhos.
bj